segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Quem Mora no Globo de Neve

Imagina que louco deve ser morar em um globo de neve.  Levar uma vida tranquila numa casinha aconchegante de madeira, cercada por altos pinheiros. Tudo coberto de neve branquinha daquele inverno interminável. Todos os dias vendo a mesma paisagem, sonhando com a vida além daquele muro de vidro. Passar horas a fio observando a paisagem destorcida do quarto lá fora, se perguntando quem são aqueles deuses gigantes que andam, dormem, dançam e comem naqueles aposentos gloriosos. E sentir seu mundo virar de cabeça pra baixo, quando um daqueles deuses, mas dessa vez um bem pequeno, segura o globo com suas mãos rechonchudas e sacode o objeto no ar. E se maravilhar, ao ver os olhinhos brilhantes daquela criaturinha por ter feito nevar na minha casinha aconchegante de madeira, cercada por altos pinheiros.

Ell Fiscina

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pare, pense, crie

A imaginação é um sentido. O mais importante de todos. Aquele que possui imaginação é capaz de enxergar o pôr-do-sol mesmo sem ter o sentido da visão; de sentir o sabor de comidas exóticas sem sequer pô-las na boca; de ouvir o canto dos pássaros apesar de qualquer deficiência. A imaginação deixa as cores mais brilhantes, os sonhos mais exultantes, os pesadelos mais sombrios.


Ell Fiscina

domingo, 28 de agosto de 2011

Seduza-me

Seduza-me sob a luz das estrelas dançantes, ao som dos suspiros das ondas do mar. Seduza-me sob o sol escaldante, ou sob as árvores esvoaçantes. Seduza-me, enlace-me, use seu corpo suave para me prender junto a ti. Use teu corpo, mas use também suas palavras. Com sua voz rouca, sussurrante, declame poesias modernas, conte histórias antigas, fale que me ama mais que tudo no mundo. E, por fim, beije-me com essa boca carnuda, emoldurada pela barba áspera, cheia, rústica. Beije-me e me faça esquecer do tempo. Beije-me, seduza-me, enlouqueça-me.

Ell Fiscina

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Suspiro

Suspiros molhados
Geladas demonstrações de afeto
Toques, retoques, carinho
Sopros sinceros de amor

Carne, arde, geme
Rola, morde, ama
Braços, pernas, lábios
Beijos, seios, laços.

Ell Fiscina

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Lar Doce Lar

Nossa casa é o nosso País das Maravilhas particular.
Vivemos num lugar mágico, tranquilo,
empesteado pela fumaça do café fresquinho,
repleto das palavras poeirentas dos livros antigos
e do som das canções mortas.
Nosso lar doce lar das comidas congeladas, do sono constante,
Da noite eterna.
Nosso lar doce lar que o destino colocou na nossa frente.

Ell Fiscina

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quer um cigarro?

Te conheço através de um cigarro
Compartilho contigo um cigarro
Nos seus beijos não sei se me agarro
Se me agarro,
Esbarro,
Tiro sarro.

Nossa conversas são puro escarro
Nosso riso, puro acaso.
Amor por acaso.

Sei que foi apenas um caso,
Mas não quero aceitar o ocaso.

Vivo num vazio vaso bizarro.
Vazio porque descobri que nunca te tive;
Bizarro por desejar que fiques.
Vivo!
Vivo sim

E penso o quanto é difícil esquecer de algo que aconteceu num universo paralelo
Eu, você e o vício amarelo,
Num momento de zelo,
Num abraço singelo
Que virou apenas um libelo.

E então, numa fútil tentativa de te esquecer
O que mais posso fazer
A não ser pedir a outro cara um cigarro
E torcer para que ele seja melhor do que você,
Meu caro.

Ell Fiscina

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Saudades

Hoje bateu uma saudade tão forte.
Saudades de casa
Saudades dos amigos
Saudades dos risos
Tenho saudades até mesmo do que não vivi.
Eu paro e penso em coisas que eu queria ter feito, mas não tive coragem
Coisas que eu queria ter visto, mas não tive oportunidade.
Coisas.
Um simples momento borrado, guardado no fundo do meu baú de memórias.
Baú este tão velho e empoeirado que tenho receio de tocar.
Baú este que guarda cada pedacinho de mim e me faz ter cada vez mais saudade.

Ell Fiscina

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Divagando

Hoje me peguei pensando em você. Lembrei dos nossos momentos juntos, das risadas, dos segredos. Cheguei então a conclusão de que nós somos perfeitos um para o outro. Não teria sido ótimo se estivéssemos apaixonados?
Eu não sei se a gente se conheceu muito cedo ou tarde demais. Não sei se estávamos no lugar errado. Só sei que alguma coisa saiu muito errada quando nos vimos pela primeira vez. Um único detalhe poderia ter mudado a nossa história.
Ás vezes eu fico pensando em tudo o que nós poderíamos ter feito juntos. Seríamos como um daqueles casais dos filmes de comédia romântica. Escreveríamos poemas e músicas, assistiríamos filmes, montaríamos uma banda...
É realmente uma pena que a gente nunca tenha se apaixonado perdidamente um pelo outro.
Ou, quem sabe, é realmente uma sorte que a gente nunca tenha se apaixonado perdidamente um pelo outro.

Ell Fiscina

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Bar dos Comunistas

Hoje eu sonhei com uma reunião entre comunistas.
Homens barbudos, voz grossa, um cigarro no canto da boca e um autógrafo de Karl Marx no bolso, sentados nas mesas bambas ou nos balcões sujos. Estão reunidos em um bar qualquer no centro da cidade, trovejando teorias utópicas e reclamando, entre uma cerveja e outra, que a localização do bar estava errada: “Não deveria ser um bar de esquerda? O que a gente está fazendo aqui no centro?”.
Eles discutem sobre política, futebol, novela. Chegam até a fofocar:
“Você ficou sabendo que Che e Fidel estão tendo um caso?” – um jovem historiador perguntou baixinho ao rapaz ao seu lado.
“Pobre Raul, vai ficar arrasado!”
Quem foi que disse que homem não fofoca?
Raramente uma mulher é vista bebendo na companhia desses homens. Não que todo marxista seja machista. É só que poucas mulheres se interessam por tais ideais. Seria muita hipocrisia comprar um vestido vermelho Gucci e um par de sandálias Louis Vuitton e passar horas no salão de beleza pra discursar sobre como o capitalismo é injusto e o que deveria ser feito para melhorar o socialismo de Lenin.
Soube que Deus foi proibido de entrar nesse bar. Eles dizem que o Cara foi barrado porque a maioria não acredita na existência Dele; mas anda correndo o boato por aí de que eles só estão chateados mesmo. Parece que Ele foi visto andando de mãos dadas com aquele cara esnobe, o tal de Capitalismo. Pobre Deus, não sabe no que está se metendo.
Enquanto eu percorria o Bar dos Comunistas, passando pelos banheiros, pela cozinha, observando cada gesto de cada criatura ali presente, percebi uma coisa engraçada. Não tinha garçom. Não avistei em nenhum lugar nada que se parecesse remotamente com um garçom. Tinha só um bartender, que entregava a bebida ou comida e depois traçava, num caderninho, uma linha vertical ao lado do nome do cliente. Só descobri depois que aqueles tracinhos eram o tanto de bebida que a pessoa já tinha comprado. Porque lá eles dividem a bebida igualmente para todos, então há uma quantidade máxima que cada um pode receber. Essa também é a razão para ninguém ter me pagado um drink.
Pena que eu acordei logo na hora que ia começar o “voz e violão”.

Ell Fiscina

terça-feira, 5 de julho de 2011

No More Poetry

Cansei de poesias.
Eu nunca fui muito fã de poemas. Nunca parei pra ler, sei lá, Drummond. O único poeta que eu gosto de verdade, que acompanho todos os trabalhos, não é famoso. Acho que nem poeta ele é. Sei lá. Não sei classificar os textos dele. Eu sei que ele é meu amigo e que escreve muito bem.
Voltando ao assunto: eu gosto das histórias emocionantes, fantásticas, assustadoras e românticas. Eu vivo no mundo do narrador onisciente, do narrador-personagem, do defunto autor. Mundo cheio de heróis e anti-heróis,  bruxas e princesas, índios, fadas, padres. Mundo cheio de aventuras.
Pra mim não basta só falar do sentimento, do quanto eu te amo ou te odeio, usando metáforas bem elaboradas. Eu preciso mostrar esse sentimento, narrar como duas pessoas se apaixonaram ou como viraram inimigos, transformar as ideias em personagens complexos ou vazios.
É isso... Vou voltar a escrever contos.

Ell Fiscina

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Desesperançada


O problema todo é a esperança.
O cara te enche de esperança para, em seguida, pegar uma hanzo e matar a pobre esperança. Ele massacra, sodomiza a esperança.

Ell Fiscina

sábado, 2 de julho de 2011

Preciso de uma Paixão

Preciso de uma paixão. Sim, de uma paixão.
Queria sair por aí procurando meu príncipe encantado, com seu cavalo branco e tudo o mais. Um sonho inocente, infantil,  impossível.
Queria o meu verdadeiro amor, o meu final feliz, como num filme.
Pensando bem, esquece essa história de príncipe. Um plebeu já está bom demais. Ou um guerreiro, quem sabe. Um elfo. Um lorde inglês. Sei lá.
Ele não precisa ser perfeito, nem se achar o tal (mas tem que ser bonitinho... e inteligente). Se ele sorrir, conversar e cantar já está bom demais. O resto que vier é lucro.
O importante é que ele, esse homem nem tão perfeito, me conquiste, seja com flores ou com palavras bonitas. O importante é que ele lute por mim, mostre interesse e queira estar ao meu lado tanto quanto eu quero estar ao lado dele. O importante mesmo é a paixão.

Ell Fiscina

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Barba

Um reflexo na janela
Olhares cruzados no sem fim
Povoando o céu e a terra de mistérios

Ameaça, carapaça
Sorrisos disfarçados, enfim...
Um gesto singelo
Um dedo nos lábios afastados
Um ou dois beijos cálidos

Milhares de detalhes sem sentido
Sentidos em uma lembrança
No sentido oposto

E uma barba
Preta, falhada, bem aparada
Roçando o rosto suave
Da jovem apaixonada

Paixão entregada
Farsa disfarçada
Mentiras insinceras
Ilusões e esperanças.

Esperança de sentir
Uma vez mais,
Que seja,
A aspereza daquela barba.


Ell Fiscina

domingo, 26 de junho de 2011

Ser ou Dever Ser

Amanhã tenho prova de IED (Introdução ao Estudo do Direito). Já sei a relação entre Direito e Moral, a diferença de coação e coerção, cultura e civilização. Mas aí paro pra refletir. E minha reflexão se dá num clima Shakespeariano (ou Hamletiano): Ser ou dever ser?
Ser quem eu sou, ou dever ser quem eles querem que eu seja?
Ser o que o gosto, ou dever ser o que me mandam gostar?

É melhor parar com as divagações sem sentido e voltar aos velhos livros.

Ell Fiscina

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Viagem de Ônibus

Há uma beleza exótica numa viagem de ônibus. As janelas sujas, as cortinas grossas e enjoativas, as árvores esvoaçantes com a silhueta recortada contra o sol poente. Detalhes insignificantes do beijo mecânico entre os pneus e o asfalto gasto, mas que, manipulados da maneira correta, dariam elementos perfeitos para a mais bela poesia.

Ell Fiscina

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Minha Mente

A minha mente voa pelo céu azul
Saboreando o vento
Atravessando as nuvens
Apostando corrida contra aves e insetos

A minha mente parte para a Lua
Tenta alcançar o Sol
Salta de estrela em estrela
Vai além da Via Láctea.

A minha mente corre pela relva verde
Dança com os animais
Admira a grandeza das árvores
E sobe nas mais altas montanhas.

A minha mente nada nos mais profundos oceanos
Nos rios mais gelados
Nos mais belos lagos

A minha mente canta com as sereias
Brinca com os golfinhos
E luta com tubarões.

A minha mente passa pelo fogo sem se queimar
Desce até o centro da Terra
E descobre os segredos da vida e da morte.

E então a minha mente volta para o meu corpo cansado
Tudo vira uma lembrança distante
Um sonho colorido e vivaz
Do qual algum dia não mais lembrarei.

Ell Fiscina

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Beijos, blues e poesia

Alto da serra. Noite fria. Nós dois estamos aconchegados no só rústico, na velha cabana de madeira, tomando um bom vinho. O som da guitarra de Willie Dixon enche o ambiente, enlaçando nossos doces sussurros de amor; cada nota selada por beijos cálidos, quentes, apaixonados. Um momento eterno na sua transitoriedade.
E quanto a poesia?
A poesia está no eternamente. Está na lembrança. Está na suavidade do cobertor puído. Está no cheiro da madeira envelhecida.
A poesia está em você.

Ell Fiscina

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Beleza

Às vezes eu vejo coisas tão belas que sinto uma dor profunda no peito. Pode ser um rosto, uma música, um poema. Tenho vontade de possuir, de tocar tais coisas. E deixar que a essência da beleza escorra por minhas mãos e penetre no meu espírito. E isso me entristece tanto, pois é um momento tão glorioso, tão... perfeito, que é realmente uma pena que seja tão efêmero.

Ell Fiscina

Apresentação

Esse primeiro post deveria ser uma apresentação. Quem sou eu, aonde vivo, o que faço, o que gosto, o que não gosto, o que me motivou a fazer esse blog... Mas eu não quero falar sobre mim. Esse blog é sobre meus textos e nada mais.
Uma vez me perguntaram da onde eu tirava inspiração pra escrever. Bem, eu não tenho um "muso inspirador". Nunca tive. Se algum dia eu tiver, pode deixar que eu aviso. Metade dos meus textos surgem naquele momento crucial em que você já está deitado, de olhos fechados, esperando a visita de Morfeu. A outra metade me ocorre quando estou tomando banho, ou quando estou no ônibus, na sala de espera do dentista ou na casa da minha avó.
Eu costumava guardar os frutos das minhas divagações em um baú a sete chaves, mas cansei de esconder. Decidi me render e mostrar para quem quiser ver o Brilho Eterno de uma Mente Romântica.

Ell Fiscina

Pequena homenagem a meu grande amigo Neto, que depois de muita insistência da minha parte concordou em me desenhar como uma super-heroína.